sábado, 29 de dezembro de 2007

sentido

o silêncio gritante
das palavras não ditas
escolhas não feitas

a solidão pungente
imutável
permanente

a dor que fere
que corta
sangra

a ferida aberta
inflamada
necrosada

a alegria esquecida
de um sorriso franco
abraço apertado
beijo apaixonado

o prazer mundano
um refúgio
escolha
inevitável

a necessidade de sentir
de fazer
curtir
inadiável

tudo junto
dentro
grita

não há como ignorar
certas coisas nunca mudam
se a gente não mudar

tentar
sempre
só o que resta afinal

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Quem poderá me salvar?

Tentando me anestesiar
Pra não ter que sentir o que sinto
Não ter que pensar e não conseguir decidir

Desejar ir pra bem longe
Mas saber que ninguém pode me salvar de mim

Quero fugir dos problemas que eu inventei
Preciso encontrar um jeito de ser normal novamente

Não posso aceitar ter que continuar lidando com essa dor que me persegue
Que eu quero sarar mas que não me deixa nunca
Me impede de chorar, de botar pra fora toda a angústia da minha alma

Sinto que vou sufocar
Com esse silêncio
Essa coisa fria e oca que habita meu peito

Queria renascer
Em outro corpo
Outra mente


Pois ainda não descobri a cura para o meu mal
E também não consigo mais lidar com isso
As forças se esgotaram

As opções que se estendem não me agradam
Mas nada consegue mesmo me fazer sentir pior

Só queria achar um jeito de me livrar de mim

Desse câncer que me corrói as entranhas
Não do corpo
Mas do espírito

É como se eu nem estivesse mais aqui

Acho que é só a carcaça que se obriga a permanecer nesse mundo banal
Realizando suas tarefas e parecendo gente normal

Enquanto eu me autodestruo involuntariamente

Não sei se é punição
Pois não sei qual meu crime

Não ter domínio sobre meus pensamentos?
Ou não saber mais sentir?

Será que é só dor que me aguarda?
Não, não posso aceitar

Preciso tentar
Mas de onde tiro forças pra lutar?

Tá tudo estranho, escuro
Estou cega,
Me perdi no labirinto,
Não sei mais pra onde correr

Quero me esconder,
Dos meus pesadelos

Não consigo mais dormir,
Não quero mais acordar

Só queria sumir

Na verdade,
Me defender de mim.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

THE END

Não consigo achar tudo tão natural.
Essas coisas que não se explica,
Só se aceita.
Morte, velhice, etc.

Tudo normal,
O eterno ciclo,
Nascer, crescer, se ocupar, reproduzir, morrer...

Acho errado que não tenhamos escolha.
Tudo é apenas sentença,
Cada dia um dia a menos.
E tudo passa, vai e vem, continua, muda, acaba...

Meu cachorro tem 11 anos.
Não escuta quase nada mais,
Daqui a pouco não vai enxergar também.
Aí é só esperar pelo fim...

Isso mexe mesmo comigo,
Pois só agora me dou conta de que é o destino de todos
E um dia tudo vai embora e aí sim serei só eu no final, pela ordem natural.

A gente passa tanto tempo com as pessoas
Que nos acostumamos com aquela rotina,
Então nunca estamos preparados para perdê-las.
E geralmente só quando isso ocorre é que nos damos conta
Da importância que tinham em nossas vidas.

Me dói ver meu cachorro,
Que cresceu comigo,
Se acabando aos poucos,
Sem poder fazer nada.
Pior é constatar que vai ser assim com todos que amo,
E me sentir impotente diante de tudo...

Nessas horas que a gente vê que,
Por pior que o mundo possa ser,
Ninguém quer deixá-lo.
Somos também egoístas,
Pois não queremos perder quem gostamos.

Tudo tão normal,
Rotineiro, Cotidiano, Habitual,
Até que algo muda,
E aí tudo muda,
A gente muda.

A gente acorda daquela inércia,
Daquele costume,
E quer viver.

Então percebemos como tudo é tão frágil,
Que não temos mesmo controle nenhum,
Que decidimos buscar o que realmente importa,
O que é verdadeiro,
As pessoas e os sentimentos,
E não o que é material.

?

Às vezes a confusão é tanta que não sei nem como começar.
Escolher um foco, entre tantas coisas que me passam pela cabeça o tempo todo.
Bem, vou tentar...

Acho que sou o tipo de pessoa melancólica por natureza.
Aquele tipo que vê cabelo em ovo e não sabe curtir nada sem questionar.
Que tenta achar os porquês de coisas que nem sempre têm explicação.
E aí se entristece e se acostuma, gosta de ser assim.

A cada dia encontro novos ou rescucito velhos motivos para me preocupar.
Além das complicações normais da rotina, com a família,
Tenho que me perguntar a cada instante sobre tudo que faço, como me sinto...
E não é tão bom assim.

Gostaria de, por algum tempo, tirar umas férias de mim.
Dormir por um mês, sei lá,
Esperando que isso me deixasse mais relaxada.

Cansa mudar de idéia toda hora,
Pois, mesmo não gostando de monotonia,
Todos precisam ter algumas certezas.
E a minha única nesse instante é de que um dia vou morrer.
Mas não me cabe nem escolher em que momento...

Quero poder ter convicção das minhas escolhas,
Não só ideais,
Pois não vou mudar o mundo,
Preciso apenas decidir o rumo da minha vida.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Sen-sações

Preciso de cor, de luz, de som!

Preciso de ação, de emoção!

Preciso de gente, de bicho, de mar, de sol!

Preciso de vida, enfim.

O que eu quero(.?!...)

Eu que sempre tenho que refletir
Agora parece que desisti de me entender!

Tantas coisas adiadas
Que nem sei mais o que ainda é de verdade...

Acho que me prendo
De alguma forma a alguém que fui,
Já que é só o que conheço...

E não quero mais procurar respostas
Pra uma dúvida que nunca será sanada...

Mesmo as simples coisas do dia-a-dia
Me pergunto se têm que ser assim,
O porquê da rotina,
Minha necessidade de ter um plano traçado...

Como ocupar meu tempo,
É o que queria saber.

Sem sentir que tudo passa em vão...

Já que minha mente inquieta sempre será,
Só queria sentir que algo é real e sincero.

Quando saber se algo ainda nos comove
Ou deixou de ter sentido por se tornar realidade?!

Não se apegar às ilusões só pra não parecer vazia...

Às vezes acredito que minto pra mim mesma,
Fingindo não saber o óbvio,
Noutras parece que sou mesmo o que os outros vêem,
Mesmo que eu não me sinta assim...

Queria só poder achar algumas respostas pra velhas perguntas,
Esperando que as novas cheguem e voltem a me perturbar...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Aquilo que não se explica

Silêncio.
Escuridão.
Vazio.
Imensidão.

Tudo ou nada, tanto faz.
Fazer ou não fazer, tem diferença?
Mudar ou continuar, o que é pior...

Procurar ou só se conformar...
Em ser sempre assim.
Cansada e sem ilusões,
Continuo a buscar...

Algo que não sei com o que parece,
Aquilo que pode nem mesmo se revelar,
Mas que ainda insisto em querer desvendar...

Cada vez é mais difícil,
Deixar coisas pra trás,
Recuperar o que se perdeu,
E acompanhar tudo e todos.

Crescer e não se perder,
Tentar se achar e se encaixar,
Tudo muito complexo.

Queria ser uma pessoa fácil.
Mas tudo pra mim é difícil,
Coisas sem sentido não me atraem,
Pessoas apenas.

Acho que no fundo eu me perco
Com medo de encontrar
Alguém que não é tudo que eu queria ser.

Confusão.
Estranheza.
Vácuo.
Sem nexo.

Sei lá o que vem depois...

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Soneto de aniversário

"Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envelhecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece."

Vinicius de Moraes

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O Vazio

"Não gosto de gente. Decididamente não gosto. A sociedade na qual vivo deprime-me; a publicidade dá-me náuseas; a informática provoca-me vômitos."

"Os seres humanos costumam singularizar-se através de variações sutis e desagradáveis, imperfeições, traços de personalidade e assim sucessivamente - sem dúvida mantendo o princípio de persuadir os interlocutores a tratá-los como indivíduos na íntegra."

"...porém, nem a boa vontade pode impedir o retorno cada vez mais freqüente destes momentos onde a solidão absoluta, a sensação de vacuidade universal e o pressentimento de que a existência se assemelha a um doloroso e definitivo desastre premeditam o mergulho num estado de verdadeiro sofrimento."

Extensão do domínio da luta, Michel Houellebecq

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Meu tudo meu nada

Mesmos caminhos.
Mesmos atrasos.
Mesmos pensamentos.
Mesmos desejos.
Mesmos problemas.

Mesma inércia.
Mesma insatisfação.
Mesma desesperança ou desespero disfarçado.
Mesma rotina.
Mesma falta de vontade.

Mesmos sonhos ridículos - possíveis, distantes.
Mesma pessoa infeliz - a cada dia pior.
Mesma dor insistente - permanente, latejante.

Mesmo desejo de não acordar, de morrer, de sumir - ou melhor, de perceber que tudo está resolvido.
Mesma necessidade de agir e vontade de não fazê-lo.
Mesma fuga diária - reconforto e culpa.

Mesma carência - de tudo, de todos.
Mesma saudade - de viver, de mim.
Mesma confusão de sempre - mas uma lucidez que fere.

Mesma rotina - angústia, tortura.
Mesma realidade.
Mesmos hábitos.
Mesmos costumes.

Mesmo tudo, mesmo nada.

Por que?!

Romper o ciclo - eis a questão primordial.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Canção do dia de sempre

"Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas..."

Mario Quintana

sábado, 17 de novembro de 2007

Balada do Asfalto

"Me dê um beijo, meu amor
Só eu vejo o mundo com meus olhos
Me dê um beijo, meu amor
Hoje eu tenho cem anos, hoje eu tenho cem anos

E meu coração bate como um pandeiro num samba dobrado
Vou pisando asfalto entre os automóveis
Mesmo o mais sozinho nunca fica só
Sempre haverá um idiota ao redor

Me dê um beijo, meu amor
Os sinais estão fechados
E trago no bolso uns trocados pro café

E o futuro se anuncia num out-door luminoso
Luminoso o futuro se anuncia num out-door

Há tantos reclamos pelo céu
Quase tanto quanto nuvens
Um homem grave vende risos
A voz da noite se insinua
E aquele filme não sai da minha cabeça
E aquele filme não sai da minha cabeça

Rumino versos de um velho bardo
Parece fome o que eu sinto
Eu sinto como se eu seguisse os meus sapatos por aí
Eu sinto como se eu seguisse os meus sapatos por aí

Há alguns dias atrás vendi minha alma a um velho apache
Não é que eu ache que o mundo tenha salvação

Mas como diria o intrépido cowboy, fitando o bandido indócil
A alma é o segredo, a alma é o segredo
A alma é o segredo do negócio"

Zeca Baleiro

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O Incontestável

"De todos os seres terrestres, o homem é o mais abominável.
De toda a criação, ele é o único, não existe outro, capaz de malícia. Ou seja, o mais baixo de todos os instintos, paixões e vícios - o mais odioso.
É a única criatura que provoca a dor, sabendo que dói.
Além disso, de todos os gêneros, o humano é o único que tem espírito mau".

Mark Twain

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Sobre aquilo que não volta mais

Um dia, uma data, um momento.
Uma época, uma fase, uma pessoa.
Um lugar, uma rotina, uma vida.
Um pedaço, um esboço, um projeto.
Nós, eles, tudo.

A saudade.

De tudo que se foi,
Do que fomos,
De quem foi.

Saudade daquele sorriso que nos marcou,
Daquele olhar que dizia tudo,
Daquele toque que nos arrepiava.
Daquele instante que não deveria acabar.

Saudade de alguém que amamos e que passou,
Já não existe ou não está mais ao nosso lado.

Saudade de quando eu tinha todo tempo do mundo,
Onde tudo parecia fácil e onde todos pareciam legais.

Saudade da inocência,
Que a vida me obrigou a perder,
Aos poucos, abandonar, todas as lembranças de meu tempo de criança,
Todas as ilusões de um mundo perfeito com pessoas felizes.

Saudade da minha bisavó, que se foi quando eu nem entendia direito o quanto isso era ruim.
Saudade das cachorrinhas que cuidava na rua e um dia não estavam mais lá.
Saudade do colégio, onde tudo era farra,
Onde eu fazia questão de acordar cedo só pra lá estar e me sentir bem com aqueles que achava que eram meus amigos, e que desde lá, nada mais sei.

Por que tudo tem que acabar?
Uma hora ou outra, não importa quanto tempo dure,
Tudo e todos se vão.

Tantas pessoas que passam por nossa vida,
E só poucas permanecem.
Família, alguns amigos.
Os objetos ficam, as lembranças,
Mas as pessoas não existem mais.

De que adianta então?
Sentir saudade é uma merda.
Porque é uma melancolia daquilo que não podemos alcançar.

Não gosto de lembrar.
Não queria ter passado.
Nem memória.
Só faz doer.

Saudade dói.

Dói porque mostra o quanto somos pequenos em relação ao destino.
Não nos cabe confrontá-lo,
Não escolhemos o que carregar,
Nos arrancam e só ficamos com o pó.
Com a tristeza.

A dor passa, mas a saudade...
É eterna,
Como são eternos os sentimentos, bons ou ruins,
imperecíveis...

terça-feira, 6 de novembro de 2007

A vida como ela é (e como eu gostaria que fosse)

Esses dias assisti vídeos de quando era criança.
Melancolia.
Nostalgia.
Não sei ao certo, só sei que é ruim reviver esses momentos.
Não, minha infância foi ótima!
Por isso mesmo...

Essa é a época mais feliz,
Pois é a única onde podemos viver num mundo à parte,
Onde não temos consciência das coisas como são, nem das pessoas.
Só vivemos dia-a-dia sem nos preocupar com nada.

Por isso é tão triste.

Para alguns é tudo natural,
As transições por que passamos,
Nas diversas fases da vida.
Mas eu não consigo não sofrer com isso.

Por mais idiota que seja,
Sei lá, a gente sempre perde algo.
Sempre deixa pra trás uma parte boa de nós e da nossa história.
Passado não serve pra nada, só pra nos deprimir...

Lembro com detalhes de algumas cenas que vivi,
Importantes ou não.
E outras é como se não tivessem existido.
Tudo muito estranho...

Somos muitos,
Somos tantos,
Que já não sabemos quem somos.

Pensamentos confusos...
Sobre uma época que não volta mais,
Uma pessoa que não existe mais.
Tudo mudou.
E não consegui assimilar isso de uma maneira positiva.

Queria voltar para o aconchego da minha antiga casa,
Queria as brincadeiras na rua até de noite com meus amigos que nunca mais vi,
Os finais de semana com minhas primas lá em casa tomando banho de mangueira no verão,
Cada momento tão sem importância, mas que se tornava especial,
Por estar junto da minha família, daqueles com quem me sentia protegida e feliz.

Acho que nunca me sentirei assim novamente.
Isso dói.

A tristeza de não poder ter para sempre o que nos fazia bem.
A tristeza de ter que abandonar a comodidade de ter quem cuidasse e fizesse tudo pela gente,
Pra começar a tomar conta do próprio nariz, fazer as próprias escolhas,
E se dar conta de que o mundo e os outros estão contra nós.

Acho que, desde lá, me sinto inteiramente só.
Uma solidão que se assolou a partir do momento em que descobri o mundo,
Em que me dei conta do quão ele é imperfeito, e eu também...

Ter tantas opções e não saber escolher,
Saber que tudo pode melhorar e nem saber se quer.
É tudo confuso, essa vida de gente grande...

Pena que essa não é uma escolha que fazemos, crescer.
É uma sentença.
Vire-se quem puder.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Eu finjo, tu finges, nós fingimos

"Eu sou estranha.
Eu consigo sorrir quando quero morrer".

indefinida.blogspot.com


Será que é tão estranho e incomum assim?
Não, não é.

Hoje em dia todos fingem, de uma forma ou de outra.
Fingimos para parecermos quem desejávamos ser,
Para que gostem de nós, nos admirem ou simplesmente nos aceitem.
Fingimos para conseguir seguir em frente confiantes.

Às vezes mesmo sem querer a gente mente.
Mente por uma boa causa, ou por causa nenhuma.
Omitir não é enganar e enganar também pode ser justificável...

Um sentimento de poder toma conta de quem esconde algo.
Ao mesmo tempo que o temor de ser surpreendido o acompanha,
Uma sensação de satisfação por fazer algo que lhe é proibido o acomete.
Afinal, que graça teria a vida se nos fosse sempre tudo permitido?!

O prazer está em ter certos segredos,
Não ser totalmente transparente,
Pois ninguém gosta de pessoas extremante sinceras.

Legal é aquele cara misterioso,
Que nos faz ter fantasias...

Finja que está contente
Finja que goza
Finja que ama
Finja que não deseja
Finja que não se importa

Minta pra quem não se importa
E também para quem gosta
Minta por prazer
Minta tudo
Minta sempre
Minta só por mentir
Minta pra si mesmo
Assim pode ser que acabe acreditando e convencendo aos outros...

Fingir ou mentir, dá no mesmo.
Não é de verdade.

O retrato ideal do mundo em que vivemos.

E o baile de máscaras continua,
Vence quem representar melhor...

Será?

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Super Pateta

Às vezes me sinto um ET.
Como se não fosse possível ser entendida,
Como se pra mim não fosse permitido o tipo de vida de todos os outros, da maioria.

Coisas que pra muitos são comuns
Pra mim não têm sentido.

Me sinto estranha num mundo estranho
Onde tudo e todos são tão normais
E eu não consigo, ser e perceber isso da mesma forma.

Há aqueles hábitos que sempre existiram,
Por isso são adotados e praticados livremente.
Há o comportamento moderno,
Onde tudo é permitido,
Até o que é proibido.

E no meio disso tudo páro e penso:
Como pode ser tudo assim tão fácil?
Como os outros simplesmente agem sem se questionar?!

Na verdade eu que me importo demais...
Com o resto, não comigo.
Não ligo de verdade para mim.
Penso como uma serva.
Sei lá, como se tivesse que mudar algo,
Agir em prol do que acho certo para o mundo.

Queria ser Deus, presidente ou promotora.
Ter qualquer poder para denunciar tudo que está aí e ninguém dá a mínima!
Queria obrigar as pessoas a pensarem como eu,
Queria que todos se importassem com o próximo, com o mundo, não só com o seu!

Falando assim até parece que sou uma santa benevolente...

Mas a vida continua
E bem-afortunados daqueles que não perdem seu tempo
Filosofando inutilmente ou escrevendo bobagens que ninguém lê.

Como meu tempo livre me permite,
Continuo aqui, conformada com minha insignificância
E refletindo sobre como tornar o mundo melhor,
Sendo que sequer consigo ser uma pessoa melhor...

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Querer demais da vida

"Costuma ser assim: as pessoas se conhecem, se encantam uma pela outra, procuram conhecer os amigos, a família, os gostos pessoais, assim descobrir se foram feitos um para o outro, e se unirem para uma vida de felicidades, até que a morte os separe. Bem, para começar, é raro que duas pessoas se unam e sejam felizes até que a morte as separe, e enquanto estão se descobrindo, todo aquele enorme encantamento que sentiram no primeiro encontro começa a complicar. Ela não gosta da mulher do melhor amigo dele - e já começa a implicar - , ele não vai com a cara da irmã dela - e já começa a implicar -, um gosta de churrascaria, o outro, de japonês, e por aí vai. Começa então a tentativa de adaptação, cada um abrindo mão de certas coisas para que a tal da relação dê certo. As concessões que eram feitas nos primeiros dias de namoro com enorme prazer, um ano depois, podem virar motivo de mau humor, e a verdade verdadeira é que ninguém gosta de fazer concessões, cada um só quer fazer o que quer e o que gosta. É da natureza humana, e natural, pois se duas pessoas gostam exatamente das mesmas coisas, das mesmas pessoas, sentem fome e sono sempre na mesma hora, e por aí vai, vira uma monotonia sem fim. Então que tal por uma vez fazer tudo diferente e tentar que tudo dê certo, pelo menos por um tempo? Seria assim: uma mulher e um homem se conhecem, se olham e sentem um total arrebatamento um pelo outro. Nesse momento eles sairiam de onde estivessem e passariam a viver só desse amor, só para esse amor. Iriam morar juntos, sem saber dos defeitos um do outro, se esconderiam do mundo, dos amigos, das famílias, e abririam mão de seus desejos mais intensos para agradar ao outro. Não é assim, quando se ama? E como é assim, não brigariam por nada, não discutiriam por nada, não implicariam com coisa alguma, e a vida seria uma total felicidade _por um tempo, é claro. Mas chegaria o momento em que eles começariam a se conhecer melhor, e o mundo exterior invadiria um mundo que até aquele momento era só deles; com isso viriam as complicações, as de sempre. Teriam que conhecer os amigos e as famílias, chegaria o dia inevitável de um deles _ela_ dizer que tem horror a futebol, e ele dar o troco dizendo que odeia os filmes de Woody Allen que foi obrigado a ver, para lhe fazer a vontade. E chegaria o dia cruel em que falariam pela primeira vez sobre política, e que não iriam votar no mesmo candidato. A partir daí, virariam um casal feliz, desses que se vê por aí. Só que ser apenas feliz, para ela, era pouco. Com uma coragem que nem sabia que tinha, disse a ele que não tinha nascido para ter a chamada vida normal, que ia embora. E ficou espantada - quase decepcionada -, quando ele disse que pensava igual, que estava de acordo. Porque eles tinham vivido momentos tão delirantes, que não poderiam se conformar com menos; no fundo, queriam muito da vida; muito, tudo, tanto, que não aceitavam vivê-la como ela é. E se foram, cada um para seu lado, na procura eterna de outros encontros apaixonantes, mesmo que curtos, sabendo que para encontrá-los passariam longas temporadas inteiramente sós".

Danuza Leão

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Insana

O porquê do meu nome e do meu nick...


"Depois da última noite de festa
Chorando e esperando amanhecer, amanhecer
As coisas aconteciam com alguma explicação
Com alguma explicação
Depois da última noite de chuva
Chorando e esperando amanhecer, amanhecer
Às vezes peço a ele que vá embora
Que vá embora...oh...

Camila, Camila, Camila

Eu que tenho medo até de suas mãos
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega

E eu que tenho medo até do seu olhar
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega

A lembrança do silêncio daquelas tardes
Daquelas tardes
A vergonha do espelho naquelas marcas
Naquelas marcas
Havia algo de insano naqueles olhos,
Olhos insanos
Os olhos que passavam o dia a me vigiar, a me
vigiar...oh...

Camila, Camila, Camila
Camila, Camila, Camila

E eu que tinha apenas 17 anos
Baixava a minha cabeça pra tudo
Era assim que as coisas aconteciam
Era assim que eu via tudo acontecer
E eu que tinha apenas 17 anos
Baixava minha cabeça pra tudo
Era assim que as coisas aconteciam
Era assim que eu via tudo acontecer

Camila, Camila, Camila
Camila, Camila, Camila"

Camila, Camila - Nenhum de Nós


* Na letra da música ele batia nela.
Me identifico, pois sou, no momento, minha vítima e agressora...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Prazo

"Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer".

Sêneca


Tudo tem uma determinada validade.
Passando do ponto estraga.
Com a gente é assim,
Por que com o resto não seria?

Nascer, viver, morrer...
O ciclo que se repete, ininterruptamente...

As pessoas tem mania de acreditar em papai-noel.
Criam ilusões e acabam mesmo vivendo-as como se fossem reais.

Nada é pra sempre, nada é impossível.
Essa é a verdade.

Precisamos acreditar em certas coisas que gostaríamos que acontecessem,
mesmo que na prática não sejam assim.
Nos apegamos a qualquer coisa, é muito fácil!

A gente se acostuma e depois acha que gosta,
Que finalmente acertamos!
É muito mais cômodo, pois não precisamos mais procurar...

Mas na real isso nunca acaba.
Durante toda a vida passaremos por diversas fases.
Mudaremos fisicamente, mesmo contra nossa contade.
E nossos desejos nunca serão imutáveis.
São como nós, volúveis, transitórios...

O importante é aprender a morrer.
Deixar uma parte que não nos serve mais,
Para que nasça outra diferente.

Esquecer, deixar ir, se desapegar.

No início dói, mas um dia sara...

É tudo assim mesmo...

Nada além disso.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Ponto final

"A vida era muito mais intensa quando não passava, na média, de 40 anos. Agora é um longo, um interminável arrastar de correntes: nós somos as almas penadas deste mundo".

Mario Quintana


Levamos a vida como se esta infinita fosse
Passamos muito tempo pensando no futuro sendo que ele pode nem chegar
Só quando nos deparamos com a morte cara-a-cara é que somos obrigados a admitir que ela existe como nossa única certeza

Por que então contiuamos a agir desta forma?
Por que as pessoas querem chegar aos 100 anos, se não aproveitam nem os 20?!

A vida é maravilhosa se soubermos vivê-la
Para isso temos que deixar florescer nossos desejos, não reprimí-los, por mais malucos que pareçam, devemos vivenciá-los

Acho que pessoas felizes são aquelas que se permitem ser quem são e se aceitam desta forma
Não se culpam nem se iludem, simplesmente se entregam

Pensar nos outros é importante, olhar além pode ser essencial, mas nada disso deve nos impedir de aproveitarmos nosso melhores anos
Nossa época, como dizem, não tem que ser a adolescência, onde podemos ser irresponsáveis e descompromissados, mas qualquer época que vivemos intensamente

Pois o único momento realmente importante é o presente
O único certo e palpável
O resto é incerteza, fantasia

Temos que nos permitir ser felizes agora, pois amanhã pode ser tarde demais.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

À espera

Vejo os outros
Na rua, na tv
Em todos os lugares
O tempo todo
Fazendo coisas que eu queria fazer
Tendo o que eu queria ter
Sendo quem eu queria ser...

Ninguém tem culpa pelo meu fracasso
Ou falta de sorte
Eu me culpo
Mas nem sei bem porque cheguei onde me encontro...

Esperando, algo, alguém...
Na verdade busco me encontrar
Mas também achar aquele que sempre desejei.

Aquele que nem sei se existe
Que não sei onde está
Se um dia vai chegar...

E então me pergunto
De que adianta tanta espera
Tanta solidão
Por algo que pode nunca acontecer?!

Será que é possível que o amor tenha desistido de mim?
Pois eu não desisti dele, por mais que me pregue peças
Ainda acredito...

Mas e o agora
Não deveria ser vivido
Mesmo que não da forma que sonhamos?

Será que vale a pena se entregar ao que é mais fácil
Se tornar comum
Pra tentar se encaixar?
Digo no sentido de não ter grandes ilusões
Só se contentar com o que pode ter...

O superficial
O carnal
O banal

Sempre achei que não era pra mim
Mas me encontro num beco sem saída
Não sei pra onde correr
Que rumo tomar...

Ouvir o coração que ainda insiste em fantasiar
Ou agir só pra ver no que dá?
Só pra tentar melhorar um pouco esse vazio que nunca vai embora...

Indecisão
Dúvida
Complicação

Ouço conselhos
Penso
E continuo na mesma...

Estática
Inércia

É esse romantismo que me mata...
Por mais que me foda ainda acho que posso ser feliz só porque vejo os outros sendo!
Quero ser realista mas na verdade tudo que queria era não ter que ser,
Poder viver num mundinho só meu e de quem amo...

A espera
Permaneço
Esperando...

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Coletivo e particular

Da janela do ônibus observo as pessoas.
Como uma espectadora da vida
Olho cada um e imagino o que lhe passa
Para onde vai, de onde vem
O que ele sente, o que ela espera...

Por quem vejo na rua às vezes sou notada,
Mas geralmente não me inibo
Passando rápidamente por alguém
Prendo o olhar, encaro esta pessoa de uma forma quase natural
Como se fosse um código
Uma forma de dizer "neste instante, eu te percebo".

Pode parecer ridículo
Mas sei lá, é como se sentisse que algumas pessoas precisam ser olhadas
Pois se acostumam tanto a passarem despercebidas
Se confundindo com o local onde estão, com a paisagem
Que se tornam invisíveis, não são vistas nem se vêem...

Já dentro do ônibus sou mais discreta, apenas reflito
Todos juntos, lado a lado, frente a frente
Corpos se esbarram, minutos se compartilham
E a solidão.
Cada um em seu mundo particular
Como se todos ao redor fossem apenas objetos
Pelos quais passamos mas que não nos importam.

Às vezes noto algumas pessoas em especial, as de sempre, simpatizo
Eu que sou bastante implicante.
Noutras tenha pena, sei lá porquê.
Sentimentos e pensamentos estranhos tomam conta de mim em certos momentos...

Bom, pelo menos não sou indiferente.
Ainda tenho salvação...
E os outros, terão?

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Só por hoje...

" Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu espero conseguir
Aceitar o que passou o que virá
Só por hoje vou me lembrar que sou feliz

Hoje já sei que sou tudo que preciso ser
Não preciso me desculpar e nem te convencer
O mundo é radical
Não sei onde estou indo
Só sei que não estou perdido
Aprendi a viver um dia de cada vez

Só por hoje eu não vou me machucar
Só por hoje eu não quero me esquecer
Que há algumas pouco vinte quatro horas
Quase joguei a minha vida inteira fora

Não não não não
Viver é uma dádiva fatal!
No fim das contas ninguém sai vivo daqui mas -
Vamos com calma!

Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu não vou me destruir
Posso até ficar triste se eu quiser
É só por hoje, ao menos isso eu aprendi. "

Legião Urbana

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Cansei!

Cansei de ter que acordar quando queria só dormir.
Cansei de seguir quando queria parar.
Cansei de sorrir quando só queria chorar.
Cansei de todas as coisas impostas por mim, que não me permitem fazer o que preciso.
Cansei de me olhar no espelho e não me enxergar.
Cansei de a cada instante pensar "não aguento mais" e continuar aguentando, sei la porquê.
Cansei de querer melhorar e só piorar.
Cansei de me sentir incapaz.
Cansei de pensar sempre tão longe e não fazer nada agora pra chegar onde quero.
Cansei de me odiar por ter me deixado chegar onde cheguei.
Cansei de olhar a todos, qualquer um, e invejá-los de alguma forma.
Cansei de me sentir pior.
Cansei de ser.
Cansei.
De mim.

sábado, 6 de outubro de 2007

Não sou boa pra títulos. Talvez pra nada.

Você não sabe quem eu sou. Nem tente saber, é perda de tempo!
Mas não estressa, nem eu sei!
O que meu espelho reflete engana, mente.
Eu posso estar fingindo, ou não. Como vou saber...
Posso ser normal ou apenas uma louca disfarçada.

Parece tão difícil qualquer tipo de definição...
Um pouco de cada, diria. Muito de nada, talvez.
Não sou quem eu quero, mas na verdade não sei o que eu quero. Não há como saber...
São tantas opções, muito poucas me agradam.

Acho incrível que as pessoas sejam sempre tão elas!
Seguras, sabe, certas.
Não conseguiria me encaixar.
Por isso nem tento.

Procuro buscar, a cada instante, uma lembrança, um momento em que me senti realmente plena.
Até consigo, mas acho que foi só ilusão. E disso tô cansada...

É estranho se sentir estranha em si mesma.
Não é confortável, pelo contrário.

Mas como posso ter certeza de algo?
Acho tudo tão incerto, não me prendo a verdades incontestáveis.
Nada é definitivo, nunca e pra sempre não existem pra mim.
Isso pode ser bom, ainda posso me encontrar.
Em algum lugar, com algumas pessoas, fazendo algumas coisas...
Mas antes tenho que me achar dentro de mim.

Entre essa confusão de idéias, ideais, sentimentos e pensamentos incessantes, há de ter algo que seja puro, intacto, nato.
Não sei o que é meu e o que incorporei involuntariamente como proteção.
A gente se veste de tantas formas diferentes pra nunca sermos descobertas como somos, nuas...
E aí acaba se perdendo no meio disso tudo.
O pior é isso, tentar recuperar algo que se perdeu, que está tão escondido que nem conseguimos mais vislumbrar.

Por que tenho sempre que falar tanto, de formas diversas sobre o mesmo assunto?! Eu! Narcisismo? Capaz!
É só a forma que encontro de me expor, de me desvendar, de refletir sobre questões que percebo que não são tão "minhas" como pensava, mas de muitos que se perdem neste mundo imenso e incessantemente mutável.

O interior.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Indo e vindo

Não me pergunte os porquês.
Não saberia dizer no momento para onde caminho.
Tudo é real, mas não sinto como se fosse.
Claro, porém confuso.
Eu sou.
A mais realista. A menos conformada. A mais acomodada.

Será que tudo tem mesmo que ter um motivo?
A gente sente, sempre sabe quando tá certo?

E quando não somos capazes mais de sentir...
Temporariamente, inérteis, vazios, frios, ocos.
Quando tudo é tão normal, nada é mais ou menos, é só isso.
Bom ou ruim, nada nos desperta dessa semi-vida...

Meu lado são não me permite jogar tudo pro alto e fazer diferente.
Sempre haverá um futuro, afinal.
Mas e agora?
Como sobreviver em um presente em que nada nos satisfaz ou atinge de verdade?!

Apenas existir.
Deixar acontecer... ou não acontecer.
Deixar estar, simplesmente.
Pra que? Pra quem?

Mudar o que não está bom.
É, pode ser.
Mas o problema não são os outros.
Ao contrário do que diz a música, o inferno somos nós mesmos.
Sempre nós, nos boicotando, nos obrigando a permanecer nessa rotina angustiante...

Mas, sei lá, uma hora tem que mudar.
Uma hora a esperança vai virar realidade.
Uma hora consigo me libertar.
Dos meus fantasmas, de todo medo e todo dor em que me apego e fico.
Minha hora chegará.
Uma hora ou outra...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Faz-de-conta

- Como você é ridícula!
- Por que?!
- Porque você acha que sabe tudo!
- Quem disse?! Eu não sei nada não...
- Mas você se acha melhor que as pessoas, se acha superior!
- Nada a ver, eu não me acho nada!
- É claro que se acha! Tenta se fazer de humilde mas na verdade despreza todo mundo!
- Da onde?! Você tá louca! Eu não fico julgando as pessoas!
- Julga sim, o tempo todo! E se julga mais evoluída, a sabe-tudo!
- Claro que não, não fico me preocupando com os outros! Cada um na sua!
- Ha ha ha, essa foi boa! Não se preocupa com os outros?! Jura! Claro que você se importa com os outros, até demais!
- Não mesmo, não tô nem aí pra ninguém!
- Sua mentirosa! Não vem com essa! Se preocupa sim com as pessoas, o tempo todo! Por isso finge pra elas!
- Ah tá, finjo o que?!
- Finge tudo! Finge quem é, o que faz, o que sente...
- Por que tá dizendo isso?
- Porque eu te conheço! Você acha que não mas te conheço melhor do que ninguém! E você sabe que tô certa!
- Não, não tá. Eu só faço o que tenho que fazer.
- Não faz não! Você faz o que querem que faça, não o que quer de verdade! Por isso é infeliz! Mas você gosta de sentir pena de si mesma, não é?!
- Claro que não! Não vem tentar dizer o que eu sinto ou não! Você acha que me entende, mas na verdade ninguém me entende...
- Ah, coitadinha! A incompreendida! Viu? Não falei que gostava de se sentir assim?!
- Mas é verdade! Não sou como as outras pessoas!
- É sim! Você quer ser diferente, mas na verdade só é pior...
- Sou eu, só isso! Não me comparo a ninguém!
- Não se compara porque não consegue! Porque as outras pessoas são de verdade e você não!
- Ah tá, agora eu sou uma mentira?!
- É! E é porque quer! Gostou de vestir essa fantasia e agora não tira mais! Na verdade você só faz isso porque tem medo!
- Medo do que?!
- De viver! É seu maior medo que eu sei...
- Mas quem é que vai ter medo de viver?! Medo se tem de morrer!
- Os outros, não você. Pra você morrer é mais fácil, porque não exige esforço...
- Já chega de me analisar, quer me enlouquecer! Acha que não fico fazendo isso o tempo todo?!
- E o que você descobriu?
- Que eu não sei nada!
- Sabe sim, mas prefere fingir que não sabe, é mais fácil...
- Por que eu iria fazer isso?!
- Por que você não quer admitir...
- Que...
- Que só quer ser como todo mundo.
- Não quero ser comum...
- Mas quer ser normal.
- Claro, por que não iria querer?!
- Sei lá, você é tão estranha...
- Eu tento ser normal, mas acho que não me saio muito bem...
- Você finge bem, não se preocupa! Ninguém te descobriu ainda...
- E se descobrirem, o que acontece?
- Eles podem ter pena de você, ou nem ligarem.
- Não me importo.
- Pára com isso! É claro que se importa!
- Tá, me importo! E que que eu faço?
- Tenta deixar de ser quem você tá acostumada e começa a SER de verdade.
- E como faço isso?
- Fazendo o que tá a fim, pra começar!
- E se eu não souber o que fazer?
- Então não faz nada! Só não faz!
- E vai adiantar?
- Claro! Você aprende a ser você mesma quando não tem que fingir pra ser aceita.
- Tem razão, fingir cansa!
- É, uma hora a gente explode...
- Você já passou por isso?
- Eu passo... Também finjo o tempo todo...
- Sério?! Nem percebi!
- Essa é a moral da história, saber representar! Senão todo esforço é inútil!
- Mas por que ao invés de perder tempo sendo o que não somos não nos preocupamos em descobrir quem somos?!
- Ah, porque é cansativo, é difícil e também pode ser insuportável... muita gente não aguenta a verdade.
- É?! Mas a verdade é sempre a melhor saída!
- Não te ilude! Ninguém é assim! Na verdade todo mundo só parece! Por dentro todos sangram como nós...
- Mas todos disfarçam...
- Ninguém quer ser pego em suas fraquezas, por isso as pessoas fingem ser quem não são, representam, assim tudo fica mais fácil e elas não precisam se mostrar como são.
- Eu não quero ser assim! Quero ser eu de verdade!
- Você pode, é só ir tentando descobrir como fazer isso...
- Pois é, só que tô tão acostumada a não-ser...
- Eu sei, mas uma hora tem que tirar as máscaras, ninguém aguenta por muito tempo, senão enlouquece...
- Tô quase chegando lá...
- Então é hora de parar! Deixa tudo pra lá e começa de novo, diferente.
- Tá. Vou tentar. E se não conseguir?
- Ah, consegue sim. A gente se acostuma a tudo que é ruim, mas quando se depara com o que é bom de verdade vicia! Aí não pára mais...
- Tomara que seja assim mesmo...
- Vai ser sim, não te preocupa! Pensa só em SER, não importa o que, desde que seja real e não inventado. Essa é a moral do jogo! Quer dizer, jogo era antes, agora é que é vida mesmo... O desafio é só ser quem se é e ser feliz assim. Não pode ser tão difícil...
- É, tem tanta gente que consegue... Acho que eu também posso!
- Aham, só que agora eu vou embora, não posso mais te ajudar.
- Por que?
- Porque isso é só contigo, é individual e intransferível.
- Tá, eu acho que aguento.
- É, vai ser difícil até chegar lá, mas quando conseguir vai ver que vale a pena.
- Acredito em você. Pode ir sim, e tenta fazer o mesmo!
- Vou sim, acho que a gente consegue!
- Tá, dá notícias.
- Pode deixar.
- Boa sorte então!
- Pra você também!
- Tchau.
- Tchau.