domingo, 28 de setembro de 2008

não quero mais o pouco, quero o muito.
não quero espera, quero ação.
não quero ilusões, quero a verdade.
não quero existir, quero viver.
não quero apenas diversão, quero plenitude.
não quero anestesia, quero sentir.
não quero somente dúvidas, quero também umas poucas certezas.
não quero conformismo, quero enfrentamento.
não quero o que já foi, quero o que ainda virá.
não quero mais quem fui, quero o que posso ser.

"não quero a beleza, quero a identidade."

não quero culpas, quero aprendizado.
não quero sonhos, quero realizações.
não quero enganos, quero acertos.
não quero promessas, quero atitude.
não quero só olhar, quero ver.
não quero que me entendam, quero apenas respeito.
não quero comodidade, quero o frio na barriga.
não quero regras, quero a exceção.
não quero qualquer coisa, quero o que é meu.
naõ quero um qualquer, quero ele.

"não quero dinheiro, quero amor sincero."

não quero estagnar, quero ir além.
não quero a dor, quero a satisfação.
não quero só o abstrato, quero também o concreto.
não quero o vulgar, quero o delicado.
não quero superfície, quero profundidade.
não quero o que já conheço, quero o inesperado.
não quero o básico, quero o completo.
não quero nada, quero tudo.
não quero apenas querer, quero conquistar.

e depois disso...

quero continuar querendo.

O milagre das folhas

" Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas.
Estou andando pela rua e do vento me cai uma folha exatamente nos cabelos.
A incidência da linha de milhões de folhas transformadas em uma única, e
de milhões de pessoas a incidência de reduzi-las a mim.
Isso me acontece tantas vezes que passei a me considerar modestamente a
escolhida das folhas.
Com gestos furtivos tiro a folha dos meus cabelos e guardo-a na bolsa,
como o mais diminuto diamante.
Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os objetos a folha seca,
engelhada, morta. Jogo-a fora: não me interessa fetiche morto como lembrança.
E também porque sei que novas folhas coincidirão comigo.
Um dia uma folha me bateu nos cílios.
Achei Deus de uma grande delicadeza. "

Clarice Lispector

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Desconexa

E por que eu me incomodo?, ela pergunta.
Sei lá, talvez por não conseguir entender, ou me sentir afetada de alguma forma por tudo que presencio o tempo todo ao meu redor...
Meu problema é nunca conseguir fechar os olhos, calar o que sinto, deixar guardado num canto escondido o que me faz mal, enquanto sigo como se tivesse tudo na mais perfeita ordem.
O pior é me sentir estranha em mim por não ter qualquer identificação com quase nada. É como se por trás do que aparento fosse tudo diferente, se ninguém percebesse a essência do que sou... Mas será que eu sei? Ou que é isso mesmo e não uma invenção pra tornar tudo mais interessante? Ah, vou lá eu saber...
Só o que sei é o que não quero, não mais. Sei lá se um dia quis mesmo, ou apenas me contentei, acho que foi isso sim, só que agora não me contento em só me conformar, afinal isso não leva a nada, só ao que já se conhece, enquanto que a inquietude de querer ir além pode nos levar a lugares inimagináveis...
É muito mais fácil agir e pensar como todo mundo, é mais prático, não exige muita reflexão ou argumentação, é só ir lá e pronto, tá feito. E ninguém vai questionar também, pois difícil quem se importe em perguntar o porquê...
Desde muito tempo me pareceu chato isso de as pessoas parecerem todas saídas da mesma fábrica, com as mesmas roupas, cabelo e jeito de falar, e aí tudo que eu queria era não me parecer com ninguém.
Só que aí quando isso se tornou um fato, não sabia como me comportar em meio a essa gente que não reconhecia. E até hoje não sei... Então eu me visto de um jeito normal, tento sorrir e ser só mais uma pessoa que vive porque assim lhe disseram pra fazer, sem se perguntar se é o que queria ou como queria...
Tá, nem tudo precisa ser tão ruim ou difícil, mas complicar as coisas faz parte de mim. Talvez torne tudo um pouco mais emocionante...
Mas já que não consigo saber o que se passa com os outros, seria uma boa compreender alguma coisa em mim e aí saber como fazer com que haja sentido nisso.
Se é que há...