terça-feira, 30 de outubro de 2007

Super Pateta

Às vezes me sinto um ET.
Como se não fosse possível ser entendida,
Como se pra mim não fosse permitido o tipo de vida de todos os outros, da maioria.

Coisas que pra muitos são comuns
Pra mim não têm sentido.

Me sinto estranha num mundo estranho
Onde tudo e todos são tão normais
E eu não consigo, ser e perceber isso da mesma forma.

Há aqueles hábitos que sempre existiram,
Por isso são adotados e praticados livremente.
Há o comportamento moderno,
Onde tudo é permitido,
Até o que é proibido.

E no meio disso tudo páro e penso:
Como pode ser tudo assim tão fácil?
Como os outros simplesmente agem sem se questionar?!

Na verdade eu que me importo demais...
Com o resto, não comigo.
Não ligo de verdade para mim.
Penso como uma serva.
Sei lá, como se tivesse que mudar algo,
Agir em prol do que acho certo para o mundo.

Queria ser Deus, presidente ou promotora.
Ter qualquer poder para denunciar tudo que está aí e ninguém dá a mínima!
Queria obrigar as pessoas a pensarem como eu,
Queria que todos se importassem com o próximo, com o mundo, não só com o seu!

Falando assim até parece que sou uma santa benevolente...

Mas a vida continua
E bem-afortunados daqueles que não perdem seu tempo
Filosofando inutilmente ou escrevendo bobagens que ninguém lê.

Como meu tempo livre me permite,
Continuo aqui, conformada com minha insignificância
E refletindo sobre como tornar o mundo melhor,
Sendo que sequer consigo ser uma pessoa melhor...

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Querer demais da vida

"Costuma ser assim: as pessoas se conhecem, se encantam uma pela outra, procuram conhecer os amigos, a família, os gostos pessoais, assim descobrir se foram feitos um para o outro, e se unirem para uma vida de felicidades, até que a morte os separe. Bem, para começar, é raro que duas pessoas se unam e sejam felizes até que a morte as separe, e enquanto estão se descobrindo, todo aquele enorme encantamento que sentiram no primeiro encontro começa a complicar. Ela não gosta da mulher do melhor amigo dele - e já começa a implicar - , ele não vai com a cara da irmã dela - e já começa a implicar -, um gosta de churrascaria, o outro, de japonês, e por aí vai. Começa então a tentativa de adaptação, cada um abrindo mão de certas coisas para que a tal da relação dê certo. As concessões que eram feitas nos primeiros dias de namoro com enorme prazer, um ano depois, podem virar motivo de mau humor, e a verdade verdadeira é que ninguém gosta de fazer concessões, cada um só quer fazer o que quer e o que gosta. É da natureza humana, e natural, pois se duas pessoas gostam exatamente das mesmas coisas, das mesmas pessoas, sentem fome e sono sempre na mesma hora, e por aí vai, vira uma monotonia sem fim. Então que tal por uma vez fazer tudo diferente e tentar que tudo dê certo, pelo menos por um tempo? Seria assim: uma mulher e um homem se conhecem, se olham e sentem um total arrebatamento um pelo outro. Nesse momento eles sairiam de onde estivessem e passariam a viver só desse amor, só para esse amor. Iriam morar juntos, sem saber dos defeitos um do outro, se esconderiam do mundo, dos amigos, das famílias, e abririam mão de seus desejos mais intensos para agradar ao outro. Não é assim, quando se ama? E como é assim, não brigariam por nada, não discutiriam por nada, não implicariam com coisa alguma, e a vida seria uma total felicidade _por um tempo, é claro. Mas chegaria o momento em que eles começariam a se conhecer melhor, e o mundo exterior invadiria um mundo que até aquele momento era só deles; com isso viriam as complicações, as de sempre. Teriam que conhecer os amigos e as famílias, chegaria o dia inevitável de um deles _ela_ dizer que tem horror a futebol, e ele dar o troco dizendo que odeia os filmes de Woody Allen que foi obrigado a ver, para lhe fazer a vontade. E chegaria o dia cruel em que falariam pela primeira vez sobre política, e que não iriam votar no mesmo candidato. A partir daí, virariam um casal feliz, desses que se vê por aí. Só que ser apenas feliz, para ela, era pouco. Com uma coragem que nem sabia que tinha, disse a ele que não tinha nascido para ter a chamada vida normal, que ia embora. E ficou espantada - quase decepcionada -, quando ele disse que pensava igual, que estava de acordo. Porque eles tinham vivido momentos tão delirantes, que não poderiam se conformar com menos; no fundo, queriam muito da vida; muito, tudo, tanto, que não aceitavam vivê-la como ela é. E se foram, cada um para seu lado, na procura eterna de outros encontros apaixonantes, mesmo que curtos, sabendo que para encontrá-los passariam longas temporadas inteiramente sós".

Danuza Leão

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Insana

O porquê do meu nome e do meu nick...


"Depois da última noite de festa
Chorando e esperando amanhecer, amanhecer
As coisas aconteciam com alguma explicação
Com alguma explicação
Depois da última noite de chuva
Chorando e esperando amanhecer, amanhecer
Às vezes peço a ele que vá embora
Que vá embora...oh...

Camila, Camila, Camila

Eu que tenho medo até de suas mãos
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega

E eu que tenho medo até do seu olhar
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega

A lembrança do silêncio daquelas tardes
Daquelas tardes
A vergonha do espelho naquelas marcas
Naquelas marcas
Havia algo de insano naqueles olhos,
Olhos insanos
Os olhos que passavam o dia a me vigiar, a me
vigiar...oh...

Camila, Camila, Camila
Camila, Camila, Camila

E eu que tinha apenas 17 anos
Baixava a minha cabeça pra tudo
Era assim que as coisas aconteciam
Era assim que eu via tudo acontecer
E eu que tinha apenas 17 anos
Baixava minha cabeça pra tudo
Era assim que as coisas aconteciam
Era assim que eu via tudo acontecer

Camila, Camila, Camila
Camila, Camila, Camila"

Camila, Camila - Nenhum de Nós


* Na letra da música ele batia nela.
Me identifico, pois sou, no momento, minha vítima e agressora...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Prazo

"Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer".

Sêneca


Tudo tem uma determinada validade.
Passando do ponto estraga.
Com a gente é assim,
Por que com o resto não seria?

Nascer, viver, morrer...
O ciclo que se repete, ininterruptamente...

As pessoas tem mania de acreditar em papai-noel.
Criam ilusões e acabam mesmo vivendo-as como se fossem reais.

Nada é pra sempre, nada é impossível.
Essa é a verdade.

Precisamos acreditar em certas coisas que gostaríamos que acontecessem,
mesmo que na prática não sejam assim.
Nos apegamos a qualquer coisa, é muito fácil!

A gente se acostuma e depois acha que gosta,
Que finalmente acertamos!
É muito mais cômodo, pois não precisamos mais procurar...

Mas na real isso nunca acaba.
Durante toda a vida passaremos por diversas fases.
Mudaremos fisicamente, mesmo contra nossa contade.
E nossos desejos nunca serão imutáveis.
São como nós, volúveis, transitórios...

O importante é aprender a morrer.
Deixar uma parte que não nos serve mais,
Para que nasça outra diferente.

Esquecer, deixar ir, se desapegar.

No início dói, mas um dia sara...

É tudo assim mesmo...

Nada além disso.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Ponto final

"A vida era muito mais intensa quando não passava, na média, de 40 anos. Agora é um longo, um interminável arrastar de correntes: nós somos as almas penadas deste mundo".

Mario Quintana


Levamos a vida como se esta infinita fosse
Passamos muito tempo pensando no futuro sendo que ele pode nem chegar
Só quando nos deparamos com a morte cara-a-cara é que somos obrigados a admitir que ela existe como nossa única certeza

Por que então contiuamos a agir desta forma?
Por que as pessoas querem chegar aos 100 anos, se não aproveitam nem os 20?!

A vida é maravilhosa se soubermos vivê-la
Para isso temos que deixar florescer nossos desejos, não reprimí-los, por mais malucos que pareçam, devemos vivenciá-los

Acho que pessoas felizes são aquelas que se permitem ser quem são e se aceitam desta forma
Não se culpam nem se iludem, simplesmente se entregam

Pensar nos outros é importante, olhar além pode ser essencial, mas nada disso deve nos impedir de aproveitarmos nosso melhores anos
Nossa época, como dizem, não tem que ser a adolescência, onde podemos ser irresponsáveis e descompromissados, mas qualquer época que vivemos intensamente

Pois o único momento realmente importante é o presente
O único certo e palpável
O resto é incerteza, fantasia

Temos que nos permitir ser felizes agora, pois amanhã pode ser tarde demais.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

À espera

Vejo os outros
Na rua, na tv
Em todos os lugares
O tempo todo
Fazendo coisas que eu queria fazer
Tendo o que eu queria ter
Sendo quem eu queria ser...

Ninguém tem culpa pelo meu fracasso
Ou falta de sorte
Eu me culpo
Mas nem sei bem porque cheguei onde me encontro...

Esperando, algo, alguém...
Na verdade busco me encontrar
Mas também achar aquele que sempre desejei.

Aquele que nem sei se existe
Que não sei onde está
Se um dia vai chegar...

E então me pergunto
De que adianta tanta espera
Tanta solidão
Por algo que pode nunca acontecer?!

Será que é possível que o amor tenha desistido de mim?
Pois eu não desisti dele, por mais que me pregue peças
Ainda acredito...

Mas e o agora
Não deveria ser vivido
Mesmo que não da forma que sonhamos?

Será que vale a pena se entregar ao que é mais fácil
Se tornar comum
Pra tentar se encaixar?
Digo no sentido de não ter grandes ilusões
Só se contentar com o que pode ter...

O superficial
O carnal
O banal

Sempre achei que não era pra mim
Mas me encontro num beco sem saída
Não sei pra onde correr
Que rumo tomar...

Ouvir o coração que ainda insiste em fantasiar
Ou agir só pra ver no que dá?
Só pra tentar melhorar um pouco esse vazio que nunca vai embora...

Indecisão
Dúvida
Complicação

Ouço conselhos
Penso
E continuo na mesma...

Estática
Inércia

É esse romantismo que me mata...
Por mais que me foda ainda acho que posso ser feliz só porque vejo os outros sendo!
Quero ser realista mas na verdade tudo que queria era não ter que ser,
Poder viver num mundinho só meu e de quem amo...

A espera
Permaneço
Esperando...

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Coletivo e particular

Da janela do ônibus observo as pessoas.
Como uma espectadora da vida
Olho cada um e imagino o que lhe passa
Para onde vai, de onde vem
O que ele sente, o que ela espera...

Por quem vejo na rua às vezes sou notada,
Mas geralmente não me inibo
Passando rápidamente por alguém
Prendo o olhar, encaro esta pessoa de uma forma quase natural
Como se fosse um código
Uma forma de dizer "neste instante, eu te percebo".

Pode parecer ridículo
Mas sei lá, é como se sentisse que algumas pessoas precisam ser olhadas
Pois se acostumam tanto a passarem despercebidas
Se confundindo com o local onde estão, com a paisagem
Que se tornam invisíveis, não são vistas nem se vêem...

Já dentro do ônibus sou mais discreta, apenas reflito
Todos juntos, lado a lado, frente a frente
Corpos se esbarram, minutos se compartilham
E a solidão.
Cada um em seu mundo particular
Como se todos ao redor fossem apenas objetos
Pelos quais passamos mas que não nos importam.

Às vezes noto algumas pessoas em especial, as de sempre, simpatizo
Eu que sou bastante implicante.
Noutras tenha pena, sei lá porquê.
Sentimentos e pensamentos estranhos tomam conta de mim em certos momentos...

Bom, pelo menos não sou indiferente.
Ainda tenho salvação...
E os outros, terão?

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Só por hoje...

" Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu espero conseguir
Aceitar o que passou o que virá
Só por hoje vou me lembrar que sou feliz

Hoje já sei que sou tudo que preciso ser
Não preciso me desculpar e nem te convencer
O mundo é radical
Não sei onde estou indo
Só sei que não estou perdido
Aprendi a viver um dia de cada vez

Só por hoje eu não vou me machucar
Só por hoje eu não quero me esquecer
Que há algumas pouco vinte quatro horas
Quase joguei a minha vida inteira fora

Não não não não
Viver é uma dádiva fatal!
No fim das contas ninguém sai vivo daqui mas -
Vamos com calma!

Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu não vou me destruir
Posso até ficar triste se eu quiser
É só por hoje, ao menos isso eu aprendi. "

Legião Urbana

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Cansei!

Cansei de ter que acordar quando queria só dormir.
Cansei de seguir quando queria parar.
Cansei de sorrir quando só queria chorar.
Cansei de todas as coisas impostas por mim, que não me permitem fazer o que preciso.
Cansei de me olhar no espelho e não me enxergar.
Cansei de a cada instante pensar "não aguento mais" e continuar aguentando, sei la porquê.
Cansei de querer melhorar e só piorar.
Cansei de me sentir incapaz.
Cansei de pensar sempre tão longe e não fazer nada agora pra chegar onde quero.
Cansei de me odiar por ter me deixado chegar onde cheguei.
Cansei de olhar a todos, qualquer um, e invejá-los de alguma forma.
Cansei de me sentir pior.
Cansei de ser.
Cansei.
De mim.

sábado, 6 de outubro de 2007

Não sou boa pra títulos. Talvez pra nada.

Você não sabe quem eu sou. Nem tente saber, é perda de tempo!
Mas não estressa, nem eu sei!
O que meu espelho reflete engana, mente.
Eu posso estar fingindo, ou não. Como vou saber...
Posso ser normal ou apenas uma louca disfarçada.

Parece tão difícil qualquer tipo de definição...
Um pouco de cada, diria. Muito de nada, talvez.
Não sou quem eu quero, mas na verdade não sei o que eu quero. Não há como saber...
São tantas opções, muito poucas me agradam.

Acho incrível que as pessoas sejam sempre tão elas!
Seguras, sabe, certas.
Não conseguiria me encaixar.
Por isso nem tento.

Procuro buscar, a cada instante, uma lembrança, um momento em que me senti realmente plena.
Até consigo, mas acho que foi só ilusão. E disso tô cansada...

É estranho se sentir estranha em si mesma.
Não é confortável, pelo contrário.

Mas como posso ter certeza de algo?
Acho tudo tão incerto, não me prendo a verdades incontestáveis.
Nada é definitivo, nunca e pra sempre não existem pra mim.
Isso pode ser bom, ainda posso me encontrar.
Em algum lugar, com algumas pessoas, fazendo algumas coisas...
Mas antes tenho que me achar dentro de mim.

Entre essa confusão de idéias, ideais, sentimentos e pensamentos incessantes, há de ter algo que seja puro, intacto, nato.
Não sei o que é meu e o que incorporei involuntariamente como proteção.
A gente se veste de tantas formas diferentes pra nunca sermos descobertas como somos, nuas...
E aí acaba se perdendo no meio disso tudo.
O pior é isso, tentar recuperar algo que se perdeu, que está tão escondido que nem conseguimos mais vislumbrar.

Por que tenho sempre que falar tanto, de formas diversas sobre o mesmo assunto?! Eu! Narcisismo? Capaz!
É só a forma que encontro de me expor, de me desvendar, de refletir sobre questões que percebo que não são tão "minhas" como pensava, mas de muitos que se perdem neste mundo imenso e incessantemente mutável.

O interior.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Indo e vindo

Não me pergunte os porquês.
Não saberia dizer no momento para onde caminho.
Tudo é real, mas não sinto como se fosse.
Claro, porém confuso.
Eu sou.
A mais realista. A menos conformada. A mais acomodada.

Será que tudo tem mesmo que ter um motivo?
A gente sente, sempre sabe quando tá certo?

E quando não somos capazes mais de sentir...
Temporariamente, inérteis, vazios, frios, ocos.
Quando tudo é tão normal, nada é mais ou menos, é só isso.
Bom ou ruim, nada nos desperta dessa semi-vida...

Meu lado são não me permite jogar tudo pro alto e fazer diferente.
Sempre haverá um futuro, afinal.
Mas e agora?
Como sobreviver em um presente em que nada nos satisfaz ou atinge de verdade?!

Apenas existir.
Deixar acontecer... ou não acontecer.
Deixar estar, simplesmente.
Pra que? Pra quem?

Mudar o que não está bom.
É, pode ser.
Mas o problema não são os outros.
Ao contrário do que diz a música, o inferno somos nós mesmos.
Sempre nós, nos boicotando, nos obrigando a permanecer nessa rotina angustiante...

Mas, sei lá, uma hora tem que mudar.
Uma hora a esperança vai virar realidade.
Uma hora consigo me libertar.
Dos meus fantasmas, de todo medo e todo dor em que me apego e fico.
Minha hora chegará.
Uma hora ou outra...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Faz-de-conta

- Como você é ridícula!
- Por que?!
- Porque você acha que sabe tudo!
- Quem disse?! Eu não sei nada não...
- Mas você se acha melhor que as pessoas, se acha superior!
- Nada a ver, eu não me acho nada!
- É claro que se acha! Tenta se fazer de humilde mas na verdade despreza todo mundo!
- Da onde?! Você tá louca! Eu não fico julgando as pessoas!
- Julga sim, o tempo todo! E se julga mais evoluída, a sabe-tudo!
- Claro que não, não fico me preocupando com os outros! Cada um na sua!
- Ha ha ha, essa foi boa! Não se preocupa com os outros?! Jura! Claro que você se importa com os outros, até demais!
- Não mesmo, não tô nem aí pra ninguém!
- Sua mentirosa! Não vem com essa! Se preocupa sim com as pessoas, o tempo todo! Por isso finge pra elas!
- Ah tá, finjo o que?!
- Finge tudo! Finge quem é, o que faz, o que sente...
- Por que tá dizendo isso?
- Porque eu te conheço! Você acha que não mas te conheço melhor do que ninguém! E você sabe que tô certa!
- Não, não tá. Eu só faço o que tenho que fazer.
- Não faz não! Você faz o que querem que faça, não o que quer de verdade! Por isso é infeliz! Mas você gosta de sentir pena de si mesma, não é?!
- Claro que não! Não vem tentar dizer o que eu sinto ou não! Você acha que me entende, mas na verdade ninguém me entende...
- Ah, coitadinha! A incompreendida! Viu? Não falei que gostava de se sentir assim?!
- Mas é verdade! Não sou como as outras pessoas!
- É sim! Você quer ser diferente, mas na verdade só é pior...
- Sou eu, só isso! Não me comparo a ninguém!
- Não se compara porque não consegue! Porque as outras pessoas são de verdade e você não!
- Ah tá, agora eu sou uma mentira?!
- É! E é porque quer! Gostou de vestir essa fantasia e agora não tira mais! Na verdade você só faz isso porque tem medo!
- Medo do que?!
- De viver! É seu maior medo que eu sei...
- Mas quem é que vai ter medo de viver?! Medo se tem de morrer!
- Os outros, não você. Pra você morrer é mais fácil, porque não exige esforço...
- Já chega de me analisar, quer me enlouquecer! Acha que não fico fazendo isso o tempo todo?!
- E o que você descobriu?
- Que eu não sei nada!
- Sabe sim, mas prefere fingir que não sabe, é mais fácil...
- Por que eu iria fazer isso?!
- Por que você não quer admitir...
- Que...
- Que só quer ser como todo mundo.
- Não quero ser comum...
- Mas quer ser normal.
- Claro, por que não iria querer?!
- Sei lá, você é tão estranha...
- Eu tento ser normal, mas acho que não me saio muito bem...
- Você finge bem, não se preocupa! Ninguém te descobriu ainda...
- E se descobrirem, o que acontece?
- Eles podem ter pena de você, ou nem ligarem.
- Não me importo.
- Pára com isso! É claro que se importa!
- Tá, me importo! E que que eu faço?
- Tenta deixar de ser quem você tá acostumada e começa a SER de verdade.
- E como faço isso?
- Fazendo o que tá a fim, pra começar!
- E se eu não souber o que fazer?
- Então não faz nada! Só não faz!
- E vai adiantar?
- Claro! Você aprende a ser você mesma quando não tem que fingir pra ser aceita.
- Tem razão, fingir cansa!
- É, uma hora a gente explode...
- Você já passou por isso?
- Eu passo... Também finjo o tempo todo...
- Sério?! Nem percebi!
- Essa é a moral da história, saber representar! Senão todo esforço é inútil!
- Mas por que ao invés de perder tempo sendo o que não somos não nos preocupamos em descobrir quem somos?!
- Ah, porque é cansativo, é difícil e também pode ser insuportável... muita gente não aguenta a verdade.
- É?! Mas a verdade é sempre a melhor saída!
- Não te ilude! Ninguém é assim! Na verdade todo mundo só parece! Por dentro todos sangram como nós...
- Mas todos disfarçam...
- Ninguém quer ser pego em suas fraquezas, por isso as pessoas fingem ser quem não são, representam, assim tudo fica mais fácil e elas não precisam se mostrar como são.
- Eu não quero ser assim! Quero ser eu de verdade!
- Você pode, é só ir tentando descobrir como fazer isso...
- Pois é, só que tô tão acostumada a não-ser...
- Eu sei, mas uma hora tem que tirar as máscaras, ninguém aguenta por muito tempo, senão enlouquece...
- Tô quase chegando lá...
- Então é hora de parar! Deixa tudo pra lá e começa de novo, diferente.
- Tá. Vou tentar. E se não conseguir?
- Ah, consegue sim. A gente se acostuma a tudo que é ruim, mas quando se depara com o que é bom de verdade vicia! Aí não pára mais...
- Tomara que seja assim mesmo...
- Vai ser sim, não te preocupa! Pensa só em SER, não importa o que, desde que seja real e não inventado. Essa é a moral do jogo! Quer dizer, jogo era antes, agora é que é vida mesmo... O desafio é só ser quem se é e ser feliz assim. Não pode ser tão difícil...
- É, tem tanta gente que consegue... Acho que eu também posso!
- Aham, só que agora eu vou embora, não posso mais te ajudar.
- Por que?
- Porque isso é só contigo, é individual e intransferível.
- Tá, eu acho que aguento.
- É, vai ser difícil até chegar lá, mas quando conseguir vai ver que vale a pena.
- Acredito em você. Pode ir sim, e tenta fazer o mesmo!
- Vou sim, acho que a gente consegue!
- Tá, dá notícias.
- Pode deixar.
- Boa sorte então!
- Pra você também!
- Tchau.
- Tchau.