sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Soneto de aniversário

"Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envelhecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece."

Vinicius de Moraes

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O Vazio

"Não gosto de gente. Decididamente não gosto. A sociedade na qual vivo deprime-me; a publicidade dá-me náuseas; a informática provoca-me vômitos."

"Os seres humanos costumam singularizar-se através de variações sutis e desagradáveis, imperfeições, traços de personalidade e assim sucessivamente - sem dúvida mantendo o princípio de persuadir os interlocutores a tratá-los como indivíduos na íntegra."

"...porém, nem a boa vontade pode impedir o retorno cada vez mais freqüente destes momentos onde a solidão absoluta, a sensação de vacuidade universal e o pressentimento de que a existência se assemelha a um doloroso e definitivo desastre premeditam o mergulho num estado de verdadeiro sofrimento."

Extensão do domínio da luta, Michel Houellebecq

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Meu tudo meu nada

Mesmos caminhos.
Mesmos atrasos.
Mesmos pensamentos.
Mesmos desejos.
Mesmos problemas.

Mesma inércia.
Mesma insatisfação.
Mesma desesperança ou desespero disfarçado.
Mesma rotina.
Mesma falta de vontade.

Mesmos sonhos ridículos - possíveis, distantes.
Mesma pessoa infeliz - a cada dia pior.
Mesma dor insistente - permanente, latejante.

Mesmo desejo de não acordar, de morrer, de sumir - ou melhor, de perceber que tudo está resolvido.
Mesma necessidade de agir e vontade de não fazê-lo.
Mesma fuga diária - reconforto e culpa.

Mesma carência - de tudo, de todos.
Mesma saudade - de viver, de mim.
Mesma confusão de sempre - mas uma lucidez que fere.

Mesma rotina - angústia, tortura.
Mesma realidade.
Mesmos hábitos.
Mesmos costumes.

Mesmo tudo, mesmo nada.

Por que?!

Romper o ciclo - eis a questão primordial.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Canção do dia de sempre

"Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas..."

Mario Quintana

sábado, 17 de novembro de 2007

Balada do Asfalto

"Me dê um beijo, meu amor
Só eu vejo o mundo com meus olhos
Me dê um beijo, meu amor
Hoje eu tenho cem anos, hoje eu tenho cem anos

E meu coração bate como um pandeiro num samba dobrado
Vou pisando asfalto entre os automóveis
Mesmo o mais sozinho nunca fica só
Sempre haverá um idiota ao redor

Me dê um beijo, meu amor
Os sinais estão fechados
E trago no bolso uns trocados pro café

E o futuro se anuncia num out-door luminoso
Luminoso o futuro se anuncia num out-door

Há tantos reclamos pelo céu
Quase tanto quanto nuvens
Um homem grave vende risos
A voz da noite se insinua
E aquele filme não sai da minha cabeça
E aquele filme não sai da minha cabeça

Rumino versos de um velho bardo
Parece fome o que eu sinto
Eu sinto como se eu seguisse os meus sapatos por aí
Eu sinto como se eu seguisse os meus sapatos por aí

Há alguns dias atrás vendi minha alma a um velho apache
Não é que eu ache que o mundo tenha salvação

Mas como diria o intrépido cowboy, fitando o bandido indócil
A alma é o segredo, a alma é o segredo
A alma é o segredo do negócio"

Zeca Baleiro

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O Incontestável

"De todos os seres terrestres, o homem é o mais abominável.
De toda a criação, ele é o único, não existe outro, capaz de malícia. Ou seja, o mais baixo de todos os instintos, paixões e vícios - o mais odioso.
É a única criatura que provoca a dor, sabendo que dói.
Além disso, de todos os gêneros, o humano é o único que tem espírito mau".

Mark Twain

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Sobre aquilo que não volta mais

Um dia, uma data, um momento.
Uma época, uma fase, uma pessoa.
Um lugar, uma rotina, uma vida.
Um pedaço, um esboço, um projeto.
Nós, eles, tudo.

A saudade.

De tudo que se foi,
Do que fomos,
De quem foi.

Saudade daquele sorriso que nos marcou,
Daquele olhar que dizia tudo,
Daquele toque que nos arrepiava.
Daquele instante que não deveria acabar.

Saudade de alguém que amamos e que passou,
Já não existe ou não está mais ao nosso lado.

Saudade de quando eu tinha todo tempo do mundo,
Onde tudo parecia fácil e onde todos pareciam legais.

Saudade da inocência,
Que a vida me obrigou a perder,
Aos poucos, abandonar, todas as lembranças de meu tempo de criança,
Todas as ilusões de um mundo perfeito com pessoas felizes.

Saudade da minha bisavó, que se foi quando eu nem entendia direito o quanto isso era ruim.
Saudade das cachorrinhas que cuidava na rua e um dia não estavam mais lá.
Saudade do colégio, onde tudo era farra,
Onde eu fazia questão de acordar cedo só pra lá estar e me sentir bem com aqueles que achava que eram meus amigos, e que desde lá, nada mais sei.

Por que tudo tem que acabar?
Uma hora ou outra, não importa quanto tempo dure,
Tudo e todos se vão.

Tantas pessoas que passam por nossa vida,
E só poucas permanecem.
Família, alguns amigos.
Os objetos ficam, as lembranças,
Mas as pessoas não existem mais.

De que adianta então?
Sentir saudade é uma merda.
Porque é uma melancolia daquilo que não podemos alcançar.

Não gosto de lembrar.
Não queria ter passado.
Nem memória.
Só faz doer.

Saudade dói.

Dói porque mostra o quanto somos pequenos em relação ao destino.
Não nos cabe confrontá-lo,
Não escolhemos o que carregar,
Nos arrancam e só ficamos com o pó.
Com a tristeza.

A dor passa, mas a saudade...
É eterna,
Como são eternos os sentimentos, bons ou ruins,
imperecíveis...

terça-feira, 6 de novembro de 2007

A vida como ela é (e como eu gostaria que fosse)

Esses dias assisti vídeos de quando era criança.
Melancolia.
Nostalgia.
Não sei ao certo, só sei que é ruim reviver esses momentos.
Não, minha infância foi ótima!
Por isso mesmo...

Essa é a época mais feliz,
Pois é a única onde podemos viver num mundo à parte,
Onde não temos consciência das coisas como são, nem das pessoas.
Só vivemos dia-a-dia sem nos preocupar com nada.

Por isso é tão triste.

Para alguns é tudo natural,
As transições por que passamos,
Nas diversas fases da vida.
Mas eu não consigo não sofrer com isso.

Por mais idiota que seja,
Sei lá, a gente sempre perde algo.
Sempre deixa pra trás uma parte boa de nós e da nossa história.
Passado não serve pra nada, só pra nos deprimir...

Lembro com detalhes de algumas cenas que vivi,
Importantes ou não.
E outras é como se não tivessem existido.
Tudo muito estranho...

Somos muitos,
Somos tantos,
Que já não sabemos quem somos.

Pensamentos confusos...
Sobre uma época que não volta mais,
Uma pessoa que não existe mais.
Tudo mudou.
E não consegui assimilar isso de uma maneira positiva.

Queria voltar para o aconchego da minha antiga casa,
Queria as brincadeiras na rua até de noite com meus amigos que nunca mais vi,
Os finais de semana com minhas primas lá em casa tomando banho de mangueira no verão,
Cada momento tão sem importância, mas que se tornava especial,
Por estar junto da minha família, daqueles com quem me sentia protegida e feliz.

Acho que nunca me sentirei assim novamente.
Isso dói.

A tristeza de não poder ter para sempre o que nos fazia bem.
A tristeza de ter que abandonar a comodidade de ter quem cuidasse e fizesse tudo pela gente,
Pra começar a tomar conta do próprio nariz, fazer as próprias escolhas,
E se dar conta de que o mundo e os outros estão contra nós.

Acho que, desde lá, me sinto inteiramente só.
Uma solidão que se assolou a partir do momento em que descobri o mundo,
Em que me dei conta do quão ele é imperfeito, e eu também...

Ter tantas opções e não saber escolher,
Saber que tudo pode melhorar e nem saber se quer.
É tudo confuso, essa vida de gente grande...

Pena que essa não é uma escolha que fazemos, crescer.
É uma sentença.
Vire-se quem puder.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Eu finjo, tu finges, nós fingimos

"Eu sou estranha.
Eu consigo sorrir quando quero morrer".

indefinida.blogspot.com


Será que é tão estranho e incomum assim?
Não, não é.

Hoje em dia todos fingem, de uma forma ou de outra.
Fingimos para parecermos quem desejávamos ser,
Para que gostem de nós, nos admirem ou simplesmente nos aceitem.
Fingimos para conseguir seguir em frente confiantes.

Às vezes mesmo sem querer a gente mente.
Mente por uma boa causa, ou por causa nenhuma.
Omitir não é enganar e enganar também pode ser justificável...

Um sentimento de poder toma conta de quem esconde algo.
Ao mesmo tempo que o temor de ser surpreendido o acompanha,
Uma sensação de satisfação por fazer algo que lhe é proibido o acomete.
Afinal, que graça teria a vida se nos fosse sempre tudo permitido?!

O prazer está em ter certos segredos,
Não ser totalmente transparente,
Pois ninguém gosta de pessoas extremante sinceras.

Legal é aquele cara misterioso,
Que nos faz ter fantasias...

Finja que está contente
Finja que goza
Finja que ama
Finja que não deseja
Finja que não se importa

Minta pra quem não se importa
E também para quem gosta
Minta por prazer
Minta tudo
Minta sempre
Minta só por mentir
Minta pra si mesmo
Assim pode ser que acabe acreditando e convencendo aos outros...

Fingir ou mentir, dá no mesmo.
Não é de verdade.

O retrato ideal do mundo em que vivemos.

E o baile de máscaras continua,
Vence quem representar melhor...

Será?